domingo, 31 de janeiro de 2010

"Uma revolução democrática ou a vitória de extremistas?"

Excelente artigo no Público de hoje: Uma revolução democrática ou a vitória de extremistas?

Mais Marquês de Pombal...


A bloquista (BE) psicóloga, Joana Amaral Dias, deitou no sofá oito figuras da História de Portugal e analisa-os na obra Maníacos de Qualidade, da Esfera dos Livros, segundo os distúrbios psíquicos de cada um.
Uma destas personagens é... o Marquês de Pombal, para quem o diagnóstico é paranóia.

Sugere-se a leitura. Esta abordagem suscita curiosidade.



Luísa Godinho

31 de Janeiro de 1891

gravura de Louis Tynayre, in Illustração, 1891,
a Guarda Municipal ataca revoltosos entrincheirados no edifício da Câmara do Porto

Iniciaram-se hoje, no Porto, as comemorações oficiais do Centenário da República Portuguesa.
A 31 de Janeiro de 1891 dá-se um levantamento militar (maioritariamente por parte de praças e sargentos), que levou à proclamação da República, a partir da varanda da Câmara Municipal, e ao hastear de uma bandeira verde e vermelha no município. As muitas pessoas que acompanharam os acontecimentos resolveram dirigir-se com os militares revoltosos, em festa, para a Praça da Batalha, mas a Guarda Municipal, apoiada por outras forças militares, barrou-lhes o caminho, saldando-se o confronto em 12 mortos e quatro dezenas de feridos. Acabou, assim, a primeira tentativa de implantação do regime republicano em Portugal.
Teremos ocasião de voltar a este tema à medida que as comemorações oficiais forem decorrendo.
Luísa Godinho

Revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891

Revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891

Fotografia de alguns revoltosos sob prisão, a bordo de um navio ao largo do Porto de Leixões.

Jose Antonio Silva, prof. de Filosofia

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Portugal e a Igreja - a fundação da nacionalidade

É interessante que cada um partilhe daquilo que sabe mais. Como é mais ou menos do conhecimento geral, a minha "especialidade" é a Igreja Católica, instituição que me fascina.
O nosso país, ainda por cima, é extremamente rico do ponto de vista da História, e encontra o seu passado misturado com o passado da Igreja. Não pretendo ser exaustivo: com certeza haverá teses e bibliografia mais que exaustiva sobre o assunto. Mas é sempre curioso fazer uma síntese que, no mínimo, pode conter algumas curiosidades. Esta será a primeira de algumas, que surgirão conforme o tempo e o interesse demonstrado.

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A primeira "ingerência" da Igreja na História do país acontece na própria fundação da nossa nacionalidade.

D. Afonso Henriques assume o Reino de Portugal em 1128, mas só decorridos 15 anos, em 1143, através da assinatura do Tratado de Zamora, é reconhecida a nossa independência por Afonso VII de Leão. Contudo, - e devemos ter em conta o primado espiritual e temporal que o Papa exercia na Idade Média, sendo suserano de todos os Reinos europeus -, no ano de 1142 D. Afonso Henriques oferece o Reino à Igreja, declara-se vassalo do Papa e promete um pagamento, ad aeternum, de um tributo feudal de quatro onças de ouro. O Papa Lúcio II aceita a oferta, declara protecção espiritual ao país e reconhece Portugal como um Reino independente, pressionando assim a assinatura do Tratado de Zamora.



No entanto, é só em 1179 que o Reino de Portugal é oficialmente reconhecido pela Santa Sé, através da bula Manifestis Probatum, assinada pelo Papa Alexandre III. Esta bula, elaborada por um dos papas mais cultos da Idade Média, teólogo e canonista, prevê a resolução de um conflito futuro: o Papa define que «todos os lugares que com o auxílio da graça celeste conquistaste das mãos dos sarracenos e nos quais não podem reivindicar direitos os vizinhos príncipes cristãos».



(nas imagens, de cima para baixo, Lúcio II e Alexandre III)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto

Comemora-se hoje, 27 de Janeiro, o Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto, segundo a Resolução nº 60/7 de 01/11/2005 da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Há 65 anos ocorreu neste dia de Janeiro a libertação, pelos soviéticos, do campo de concentração e de extermínio nazi de Auchwitz, na Polónia.

Amanhã, 28 de Janeiro, a Assembleia da Republica portuguesa junta-se às comemorações internacionais e evoca, às 18h, a Memória das Vitimas do Holocausto.


Luísa Godinho

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Um Post eeeeeeeeeeeeennnnnnnnnnoooooorrrrrrrrrrrmmmmmmmeeeeeeee

Tendo este blog um cariz multi disciplinar, aqui vai a palavra mais comprida da língua portuguesa:

Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico

E o que é, afinal, um Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico?
Pois bem, um Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico é uma pessoa que sofre de Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose, uma doença rara (só podia ser...) a nível pulmonar que se contrai pela inalação de cinzas vulcânicas. Fazendo a ponte para a história, foi provavelmente de Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose que a maior parte das vítimas do vulcão Cracatoa faleceu no século XIX.
Esta palavra contém exactamente 46 letras e apareceu pela primeira vez no Dicionário Houaiss da Língua portuguesa em 2001.

David, 11ºE

domingo, 24 de janeiro de 2010

DIÁLOGOS COM ANTÓNIO SÉRGIO

A. Campos Matos pergunta:

Que representava para si a escola?

Liguei sempre pouca importância aos trabalhos escolares, a escola era para mim a sociedade dos condiscípulos. Fiz o curso secundário num internato, o Colégio Militar, depois de uma rapidíssima passagem por uma escola primária qualquer, quando regressei de Angola, onde o meu pai fora governador do Congo português. Passei ali seis anos de excelente humor. Dei-me sempre muitíssimo bem com os condiscípulos, e não tomei nada a sério a disciplina militar de estabelecimento.

Foi bem sucedido na sua actividade escolar?

Fui porque não me custava; mas muito melhor nos últimos anos, por causa da matemática e da física. Devi isto, em parte, aos meus bons condiscípulos, frequentemente me pediam explicações, o que me obrigava a saber bem o assunto. A matemática, a poesia e o desenho eram os meus encantos. Gostava muito de desenhar com o Vasco Lopes de Mendonça, cujo talento de desenhista eu admirava muitíssimo, e continuo admirando.
(...)

O objectivo da escola consistiria no seu entender...

[Em] emancipar os indivíduos, servir o progresso social; e treinar as inteligências, a fim de as tornar cada vez mais plásticas, universalistas e libertas de limitações, como exige a moderna democracia: é familiarizar a juventude com o manejo das realidades, preparando no estudante um produtor moderno, cooperador em planos de acção comum - entendendo-se por isto, quer o produtor no domínio económico quer o criador na ciência e na arte; o objectivo do ensino, em resumo, é fomentar a capacidade de um desenvolvimento contínuo, de uma racionalização intérmina da experiência, preparando os Portugueses para uma vida mais humana mais progressiva, mais fecunda, dentro de uma forma social mais justa.
(...)
Educar uma criança enviando-a à actual escola é como preparar um automobilista metendo-o no museu dos coches reais. O mestre supõe que o aluno não viverá da vida de hoje. (...) O primeiro passo do educador deveria ser determinar, tanto quanto possível, o que exige de nós concretamente a sociedade contemporânea, para sua maior felicidade, justiça e harmonia, e como o trabalho educativo poderia satisfazer tais exigências, de maneira que na escola se reproduzissem, num nível alto, os problemas da sociedade. Seguir-se-ia a este exame uma reforma do espírito escolar, segundo as concretas necessidades do desenvolvimento social.
Isabel Pinto

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sugestão de leitura - D. Sebastião e o Vidente, de Deana Barroqueiro


«Este livro que agora deu à estampa é um romance histórico construído e narrado à maneira do século XVI, um dos séculos da sua especialidade. Desta vez, Deana escolheu como objecto central a figura de D. Sebastião cuja vida é narrada em paralelo com a de Miguel Leitão de Andrada, o vidente, quatro meses mais velho que Sebastião e cujas vidas se cruzam em diversas situações ao longo da narrativa.

Sebastião é à partida uma figura sobre a qual se fixam diversas expectativas, o que o torna uma figura política que está sempre no limbo, à beira do precipício. Na verdade é fruto do único filho sobrevivente dos nove que João III teve com Catarina de Áustria. O pai de Sebastião, o infante D. João morre de diabetes mesmo antes do filho nascer. A mãe, D. Joana, filha de Carlos V, não aguenta o isolamento na corte portuguesa e parte para tomar a regência de Castela abandonando o reino e o filho. A solidão de Sebastião transforma-o em joguete nas mãos de diversos validos, como é o caso dos padres e irmãos Câmara — Luís Gonçalves da Câmara e Martim da Gonçalves da Câmara.

A obra foi construída em quatro partes que dizem respeito aos períodos mais importantes da vida do jovem Sebastião.

I—O cavaleiro sem mácula;
II — O cavaleiro da demanda;
III— O cavaleiro da perfídia;
IV— O cavaleiro do desastre.

I— O cavaleiro sem mácula é a história de sebastião até aproximadamente os 12 anos;

II — O cavaleiro da demanda — corresponde à época em que Sebastião já é rei e começa a encarar cada vez com mais entusiasmo o que ainda era o sonho da cruzada em África;

III — O cavaleiro da perfídia — corresponde à altura em que se começam a agigantar em torno dele toda a traição, a espionagem, o aproveitamento da sua juventude;

IV — O cavaleiro do desastre — enquadra toda a preparação de Alcácer Quibir e o entusiasmo do rei versus o receio e o perigo que a jornada comportava, aliada às promessas de apoio de terços e cavaleiros que nunca virão a estar presentes em Alcácer Quibir.

Ao longo destes capítulos desfilam figuras da política europeia e peninsular como Carlos V, Filipe II, Catarina de Áustria, Infanta D. Maria, João III; mas também homens ligados à casa real de Filipe II e Carlos V, tidos como seus espiões e fiéis defensores das suas estratégias políticas, como João de Borja, Padre Francisco de Borja, Cristóvão de Moura. Cronistas como Miguel Leitão de Andrada, João Cascão, Jerónimo Mendonça e o poeta Luís de Camões são simultaneamente personagens e fontes históricas. Esta é de facto uma das mais interessantes estratégias, seguida por Deana. Os cronistas surgem na história integrando na acção da ficção a sua própria escrita.

Miguel de Andrada surge também como um pretexto para que toda a narrativa seja enriquecida com os contrastes entre a cidade e o campo em Portugal no século XVI, diálogo que atravessa toda a obra. Mas esta obra é também atravessada por um riquíssimo contexto internacional onde Espanha e o Império dos Habsburgos dominam a política internacional da Europa daquele tempo. Os palácios, as intrigas palacianas onde os nobres portugueses e espanhóis desfilam com as suas contendas, intriga, espionagens e desavenças são uma constante. O campo, com o seu ritmo lento regulado pela produção da terra, regrado pelo contacto com a natureza atravessa igualmente toda a obra. De forma que na narrativa não são só privilegiados os contextos urbanos mas está também presente o sentir e fervilhar do povo no campo e na cidade.

Enquanto romance escrito à maneira do século XVI, D. Sebastião e o Vidente apresenta, a páginas tantas, a intervenção de um narrador que entra em diálogo com o leitor e interpela-o, avança e recua no tempo, problematiza os assuntos, dá opiniões e conselhos, sugere cautela para as conclusões do leitor. O efeito conseguido é espantoso porque se trata de uma estratégia de aproximação ao leitor, não só porque o interpela e sugere a sua opinião, mas também porque o confronta com situações que coagem a pensamentos e reflexões sobre a época.

Deana sugere-nos ainda uma trama de espionagem que atravessa toda a obra, porque acompanha a vida de Sebastião desde o seu nascimento até à sua morte.

O trabalho de investigação — Deana parte para estes seus trabalhos com um património de cultura já adquirido, porque conhece profundamente a literatura portuguesa toda, e particularmente, por ser mais da sua especialidade, a literatura do século XVI a XVIII.

Enquanto romance histórico, D. Sebastião e o Vidente obedece ao quadro cronológico que visa toda a época desde o seu nascimento em 1554 à sua morte em 1580.

A obra foi precedida de uma intensa e profunda investigação histórica que teve como fontes principais os cronistas já referidos (Miguel Leitão de Andrada; João Cascão, Jerónimo Mendonça) e vários autores anónimos do século XVI e XVII como foi entre outros: Crónica do Xarife Mulei Mahamet e d'El-rei D. Sebastião; Jornada de El-rei D. Sebastião à África e crónica de D. Henrique; Notícias recônditas do modo de proceder da Inquisição com os seus presos. Documentou-se ainda com leituras de clássicos como Miguel de Cervantes, D. Quixote de la Mancha.

Recorreu também a um conjunto vasto de obras historiográficas de historiadores como Borges Coelho, José Mattoso, Francisco Bethencourt, Sales Loureiro, António José Saraiva, entre outros, de forma a poder dominar os problemas sociais, económicos e políticos e religiosos da época. Mas vai mais longe. Deana documenta-se também sobre os hábitos do povo, do clero e da nobreza: a forma como vestem, como comem, o que bebem, como se relacionam, a música, a poesia, a par com o conhecimento profundo sobre o funcionamento do tribunal da inquisição. Para além do mais, Deana estudou também os contextos internacionais que giram em torno das figuras de Carlos V e de Filipe II.

D. Sebastião e o Vidente é um romance histórico que decorre num período complexo e particularmente movimentado da história europeia. A Espanha em pleno apogeu, exerce o poder político em grande parte da Europa, tem estabelecidas ligações entre as diversas casas reais europeias através de uma estratégia de casamento das princesas e príncipes castelhanos. A Espanha é nesta altura uma grande potência europeia com um império continental e ultramarino. Portugal situava-se já numa fase de declínio do seu império ultramarino e passa por uma enorme crise política que culmina com a morte de Sebastião em Alcácer Quibir e com a perda da independência.

A obra obedece a uma alternância de cenário que muda, sensivelmente de quatro em quatro páginas. É uma estratégia discursiva que imprime um enorme ritmo à narrativa e prende o leitor à história. Mas o leitor é também presenteado com a acção das personagens, com acontecimentos inesperados e sobretudo com muita intriga, muita espionagem e bastante traição. Há uma constante tensão, não só entre as personagens que desfilam no livro, mas uma tensão também impressa no perfil psicológico de Sebastião, magnificamente traçado: as suas inseguranças, os seus medos, o seu desejo de partir à desfilada da aventura e a sua necessidade de peregrinação constante pelo país, o que o fazia estar pouco tempo no mesmo sítio. Portugal do século XVI conhece-se também através das constantes viagens de Sebastião.
Este é também um romance cheio de imagens, de paisagens, de retratos humanos e de dramas e de angústias, onde o ser humano se apresenta no seu melhor e no seu pior.

Trata-se pois de uma obra que, pelo ritmo, pela dinâmica, pela riqueza dos intervenientes, pela diversidade das paisagens e dos rostos humanos bem podia ser adaptado ao cinema.

Quero, por isso, felicitar vivamente Deana Barroqueiro pelo excelente romance que mais uma vez nos apresenta e, simultaneamente, felicitar a Porto Editora pela obra de excelência que escolheu para inaugurar uma colecção de ficção que agora apresenta ao público.»


Ana Cabrera - Historiadora

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Na sequência dos interessantes posts do Prof. José António sobre D. Sebastião, apresento-vos, nas palavras de uma historiadora, um romance genial que li já há dois anos. Trata-se de uma obra (prima?) de uma escritora luso-americana, extremamente culta, que tive o prazer de conhecer na feira do livro do Porto em 2007.

Espicaça-vos a curiosidade? A mim também espicaçou. Mas fica aqui um aviso: a escrita de Deana Barroqueiro é tão intrincada que pode levar o leitor a desistir após umas frases. Vale a pena, garanto, ser persistente até ao fim.

Lenda de El-rei D. Sebastião, Quarteto 1111

http://www.youtube.com/watch?v=iDi_uMSvWUs

José António

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

EL-REI D. SEBASTIÃO

No dia 20 de Janeiro, de 1554, entre as oito e as nove da manhã, no palácio da Ribeira, nascia D. Sebastião, “O desejado”. Faz hoje 456 anos. D. Sebastião era filho do único filho sobrevivente dos nove filhos de D. João III, o príncipe D. João, e da princesa espanhola, D. Joana, filha do Imperador Carlos V. O pai de D. Sebastião morreu vinte dias antes de este nascer, tinha apenas 17 anos. O infeliz e insensato monarca nunca conheceu a mãe. O nascimento produziu grande alegria entre o povo, que veio para a rua festejar efusivamente o acontecimento. Finalmente, parecia que estava afastado o pesadelo da ocupação estrangeira. Após a morte de D. João III, tomou a regência do reino o seu tio-avô, o Cardeal D. Henrique. Aos três anos, D. Sebastião numa cerimónia protocolar perante toda a corte, tomou nas suas frágeis mãos o ceptro de ouro que foi mandado fazer de propósito para essa mesma cerimónia. Tratava-se de um acto simbólico de investidura. Contudo, só aos catorze anos, foi investido de todo o poder, como monarca absoluto. Educado pelos jesuítas, D. Sebastião desenvolveu, desde cedo, uma personalidade fanática, guerreira, autoidolatrada, psicologicamente perturbada, revelando pouco interesse pelo sexo oposto, e causando, por este facto, grande preocupação a toda a Nação, e ensombrando, assim, mais uma vez a independência de Portugal. Apesar de todos os avisos da sua avó, D. Catarina, do seu tio, D. Filipe II de Espanha, e do seu tio-avô, o Cardeal D. Henrique, D. Sebastião propôs-se organizar uma grande cruzada contra os infiéis do Norte de África, desejando, ardentemente, ser ele próprio o comandante em chefe, na linha da frente. Esta empresa começou a transformar-se numa obsessão que lhe seria fatal. Afastou da corte todos os aqueles que se opunham ao seu sonho quimérico e rodeou-se de bajuladores e de jovens nobres imaturos e sem experiência das armas, mais ou menos boémios, como o seu primo D. António, ex-Prior do Crato ou o jovem Conde do Vimioso. Quanto mais crescia esta obsessão da cruzada, mais desinteresse o jovem monarca tinha pela administração do reino. Desta forma, o reino começou a enveredar para uma perigosa desorientação. O Jovem rei absoluto apenas se interessava pela caça, treinos guerreiros e jogos de canas e touradas. Espírito temerário, aproveitava nos dias de tempestades para navegar até à barra do Tejo, podendo assim demonstrar a todos como era corajoso e, ao mesmo tempo, preparar-se para esse embate com os mouros, que desde sempre idealizara, enquanto D. Catarina e o Cardeal D. Henrique rezavam para que regressasse, ao cais de Belém, são e salvo. Convencido da sua predestinação para um desígnio divino de conquistar e combater os infiéis, deslocou-se, por diversas vezes, a Lagos para aí passar algumas temporadas e sentir o “cheiro” de África. Esse estranho desígnio acabou por se efectivar no dia 25 de Junho de 1578. Nesse dia, a armada, que não ascenderia a 500 velas, depois de levantar ferro de Lisboa, foi lançar âncoras em Oeiras para receber soldados italianos e alemães e rumou a Cádis. Deste porto espanhol, rumou a Tânger, depois, partiu para Arzila e decidiu, então, D. Sebastião marchar, por terra, de Arzila para Alcácer-Quibir. No dia 4 de Agosto, os dois exércitos encontraram-se nas areias escaldantes de Marrocos, num lugar que ficou denominado “a batalha dos três reis”. Conta-se que perante um exército mouro bem preparado e desmesuradamente superior, alguns nobres portugueses disseram a El-rei que iriam morrer todos, ao que D. Sebastião, serenamente, respondera. “Morrer sim, mas devagar”. Terminava assim, sem glória, a dinastia de Avis.

Banos-Garcia, A.V. (2006), D. Sebastião rei de Portugal, Esfera dos livros Editora, Lisboa

Domingues, Mário (1963), D. Sebastião e a sua época, Romano Torres Editora

QUADROS, António (1983), Poesia e filosofia do Mito Sebastianista, Guimarães & Cia. Editores, Lisboa (perspectiva diferente da minha, no entanto, muito interessante.)

José António, professor de Filosofia ESQM

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"Oremos pelo nosso Chefe Salazar"


As pesquisas são, frequentemente, monótonas. Não foi este o caso. Ao vasculhar o Google para um trabalho de Geografia C sobre o nacionalismo, eis que me deparo com um "santinho". Um santinho não é mais que aquilo a que no norte chamamos de pagela, isto é, pequena folha onde consta uma oração, normalmente para obter graças. Algumas explicações:

A 4 de Julho de 1937 seguia, na Av. Barbosa du Bocage, em Lisboa, um Buick que transportava António de Oliveira Salazar. Ditador que tinha, nesse mesmo ano, prometido ajuda a Franco na Guerra Civil que os nossos vizinhos espanhóis travavam. Ia, como disse, Salazar no seu carro, quando é vítima de um atentado à bomba, o único que sofreu durante a sua longa permanência no governo, cometido pelo anarco-sindicalista Emídio Santana.

A opinião nacional ficou, obviamente, chocada. Após o milagre económico que Salazar operou no nosso país, o povo devoto, que o próprio ditador educou como temente a Deus, sente-se pelo susto do chefe amado. A Igreja, apoio incontestável do regime nos seus primeiros anos, responde ao fervor religioso do povo e é por ordem de D. António Antunes, bispo de Coimbra, que se imprime este "santinho", concedendo indulgência (isto é, perdão dos pecados) a quem o rezasse com devoção.

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Observação pessoal: só publico este "santinho" a pedido da Prof. Luísa. Houve anteriores posts sobre figuras históricas portuguesas, feitos por mim, que não foram interpretados no espírito em que os escrevi. Não queria, de todo, que me tomassem por reaccionário. Admiro, como considero que todos deviam admirar, as figuras que fizeram a nossa nação. Nesse sentido, admiro e respeito a memória de Salazar, pelo bem que ele fez a Portugal. Da mesma forma, repudio muita da sua acção. Mesmo assim, paz à sua alma.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

História? Qual História?

A História contra factual tem destas coisas...
De facto, e apesar da falta de rigor da mesma, é saudável reflectirmos sobre o que poderá ter acontecido.

E se o Hitler tivesse ganho a Segunda Guerra Mundial?
E se Napoleão tivesse levado a dele avante?

Niall Fergunson explorou esta vertente mais obscura da História na sua obra The pity of War e concluiu que, se a Alemanha tivesse ganho a 1ªGuerra Mundial, nunca se teria formado o Terceiro Reich.
E se pusermos todos os factos da História tal como a conhecemos em causa? Historiemos sobre isto...


David, 11ºE

Mais um longo contra-ataque...

Sebastião José de Carvalho e Melo foi o primeiro Conde de Oeiras e mais tarde o primeiro Marquês de Pombal, nome com que ficou sempre conhecido. Nasceu no dia 13 de Maio de 1699. Provém da baixa Nobreza, trabalhou com D. João V em Áustria, mas este infeliz com o seu trabalho trouxe-o de volta para Portugal. Tendo assistido a tudo o que acontecera no estrangeiro decidiu aplicar medidas de acordo com as ideias Iluministas. Desempenhou um papel fulcral na aproximação de Portugal à realidade económica dos parceiros Europeus. Executou várias reformas, nomeadamente nas finanças Portuguesas com o “Erário Régio” e no Ensino com a criação de escolas, a extinção da Universidade de Évora e a reforma da Universidade de Coimbra. Acabou na prática com os autos de fé em Portugal e com a discriminação dos cristãos-novos. Subordinou o Clero à Coroa e criou a Real Mesa Censória, desempenhando o papel da Inquisição. Criou também a primeira escola de Comércio na Europa. Foi um dos principais responsáveis pela expulsão dos Jesuítas Desempenhou um papel muito importante no Terramoto de Lisboa de 1755 com a sua frase célebre: “Enterrem os mortos e cuidem dos vivos” um desafio que lhe conferiu o papel histórico de renovador arquitectónico da cidade. Pouco depois juntando tudo isto ao Processo dos Távora, o Marquês de Pombal tornou-se numa personagem muito respeitada.
Para enaltecer mais, o poderio e tudo o que o Marquês foi e fez, direi apenas algumas frases. O Marquês, encontrou um Estado miserável, pobre, com fome, com medo. Como já disse, restaurou as finanças, tornou Portugal um País mais respeitável, rico, independente. Colocou a Nobreza no sítio onde deveria estar, longe da administração do Reino, tornando as ideias que eram defendidas que diziam que a burguesia é que se deveria ocupar desses cargos, visto que a Nobreza era incapaz de tomar conta do assunto, retirou algum poder à igreja, visto que esta apenas servia para encher a cabeça do Povo com superstições. De acordo com o que se havia feito no estrangeiro, criou empresas, deu subsídios, desvalorizando a moeda Portuguesa, tornou-a e a seu país, Portugal num patamar superior e mais competitivo. Como já afirmei, o Marquês, tornou as ruas mais seguras, os criminosos passaram a ser devidamente castigados, fez reformas no Ensino, criando escolas, Universidades, tornando o povo mais culto. Tentou mesmo o impossível, que era tentar educar devidamente a Nobreza. Numa altura, 1755 e alguns anos depois, em que o povo realmente precisou da ajuda do Reino, o Marquês apareceu de forma excelente, forte, indiscutível e fez de Lisboa uma nova cidade, pilotando assim os avanços posteriores da Ciência, ao criar apoios para as habitações contra os sismos, tornando a vida mais segura, mais feliz. Não se limitou a falar de “ideias iluministas”, ele pô-las em prática, criando as habitações todas do mesmo tamanho, entre outras características, para provar que todos nasciam iguais.
Sebastião José de Carvalho e Melo, tornou Portugal um país muito respeitável, não só curou de um Portugal doente, como lhe deu um futuro, um bom futuro. Sem ele, hoje sem dúvida estaríamos numa situação muto pior, Lisboa é uma cidade cheia de turistas devido a este grande homem. E todos os Portugueses se deveriam sentir orgulhosos, agradecidos pelo país que ele nos deu, pela Pátria que curou. Eu estou!
E tenho pena que o Professor José António, com todo o respeito, apenas tenha realçado o julgamento dos Távora, dando uma imagem injusta do Marquês, O julgamento que tanto pode ter sido injusto, quanto justo, não sabemos, não estávamos lá, mas uma coisa é verdade, com a família Távora injustiçada ou não, o Duque de Aveiro é sem dúvida culpado, pois D. Maria nada fez para lhe recuperar o nome.
Glória seja feita ao grande homem que foi Sebastião José de Carvalho e Melo!


José Limão 11E

domingo, 17 de janeiro de 2010

O terramoto de 1755 e o "Inquérito do Marquês de Pombal"

O recente terramoto no Haiti justifica voltarmos ao tema do terramoto de 1755, já abordado no nosso blogue pela prof. Isabel Pinto e pelo aluno David Silva. Também o post do prof. Zé António sobre "a face oculta" do Marquês de Pombal faz despertar o interesse por outras "faces" do estadista. Juntemos, então, os dois temas: terramoto e Marquês, a propósito de um Inquérito.

O terramoto despertou um enorme choque, mas também uma grande preocupação explicativa, quer dentro, quer fora das fronteiras do reino de Portugal. Muitos investigaram e publicaram obras, procurando descreve-lo com pormenor e rigor, e indagar e explicar as suas causas. Terá nascido com o terramoto de 1755 a sismologia. A realização de um inquérito , elaborado em moldes hoje considerados científicos, e conhecido como o "Inquérito do Marquês de Pombal", introduz a ciência da sismologia em Portugal. O ministro envia o inquérito a todas as paróquias do país, com vista ao conhecimento das manifestações e efeitos do terramoto e do maremoto: quanto tempo durou o terramoto?; quantas réplicas se sentiram?; que tipo de danos causou?; o que aconteceu ao mar, rios e fontes?; o que aconteceu aos poços?; onde se abriram fendas na terra?; quais as características do maremoto?; se a maré encheu ou vazou primeiro?; a que altura cresceu a onda?; quantas vezes se deu o fluxo?; quanto tempo levou a água a baixar e a encher?; que animais tiveram comportamento estranho? ... É um conjunto de perguntas de grande pertinência e objectividade. As respostas foram chegando de todo o país e encontram-se, hoje, na Torre do Tombo, o Arquivo Nacional. São excelentes fontes, quer para historiadores, quer para cientistas.

Luísa Godinho

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

AO JOVEM LEITOR

(...)Considerarás o livro uma espécie de instrumento de libertação, um acervo de hipóteses e de pontos de vista que sirvam de excitante do teu intelecto, de ensejo ou de pretexto para tu reflectires, - e nada mais. (...) inspirar-te o desejo de soltares amarras, de fugir do porto, de te aventurares, - se pertences à espécie dos que vieram ao mundo para singrar no oceano da procura livre, entre as rajadas das opiniões, com o horizonte limpo a todos os rumos e aberto à audácia da investigação. Se és assim amigo; se és um espírito, - mete-te à vaga corajosa, e deita o meu tomo pela borda fora logo que te sintas entre mar e céu. Esquece-te de mim (...) ou combate-me até como bom ginasta, com as tuas armas(não com pessoalismo, ou com furores de simplório)...Treina contra mim teus braços ágeis, fere-me com lealdade e a sorrir (...) inspire-te a profundez das águas limpas, possas levar teu barco onde eu não fui.
(...) Mantém-te na facção em que bem quiseres: mas sê apurado, meu jovem inimigo; mas sê homem culto, mas sê europeu! Combatendo sê elevado e sê leal."
António Sérgio escreveu o texto, a que pertence este extracto,em Paris, no exílio, em 1928
Está publicado no Tomo II dos Ensaios, no prefácio à 1ª edição - existe no Centro de Recursos da ESQM. Leiam-no todo, está actualíssimo!
Estas palavras podem aplicar-se ao "tocahistoriar!" - Toca a produzir rajadas!
Publicado por Isabel Isidoro

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O Livro de Cabeceira




The Pillow Book é um filme de 1996 realizado por Peter Greenaway.
Baseado nas Notas de Cabeceira de uma escritora medieval japonesa, Sei Shonagon, a acção desenvolve-se em Quioto. A protogonista é Vivian Wu, na pele de Nagiko, uma jovem que terá a sua vida sexual marcada pela escrita e os caracteres da língua, gravados no seu corpo.
Procurando o seu amor ideal, encontra Jerome em Hong Kong, uma tradutor. Apaixonada, acaba por descobrir uma relação homossexual que este tem com um homem bem mais velho.

Peter Greenaway nasceu no País de Gales em 1942 e é um conceituado cineasta. De entre os seus filmes mais conhecidos saliento também O Bebé de Macon (1993).

Tomás, 11E

Je suis un phénomène


1998, de Peter Brooke

Sir Peter Stephen Paul Brook CH, CBE (Londres, 21 de Março de 1925) é director de teatro e cinema britânico. Estudou no Magdalen College, na Universidade de Oxford.

A peça fala do estudo de Luria acerca de um polaco de Cracóvia Shereshevsky que nada esquecia e tinha a obsessão por absorver cada detalhe, chegando ao pormenor de se recordar da roupa que alguém usava há uma década atrás! Como é natural, este "dom" pode trazer felicidade, mas também dissabores...

Isto é o início de três posts culturais alternativos. Dado que não é propriamente alguém especialmente conhecido e que a história da peça é de uma actualidade e interesse extraordinário, justifica-se esta primeira entrada.

David, 11ºE

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Parte I – “A face oculta do Marquês de Pombal”

Após um processo que durou apenas alguns dias, onde se procurou que os réus assumissem a culpa através de torturas levadas a cabo por algozes, especializados, ao longo de anos, na escola de suplícios da Santa Inquisição, a sentença foi proferida no dia 13 de Janeiro de 1759 (faz, precisamente, hoje, 251 anos). Uma parte deste tribunal canónico fora reconvertida num tribunal secular ao serviço de Sua Majestade, denominado Suprema Junta da Inconfidência. A Suprema Junta da Inconfidência condenou à morte algumas das figuras mais brilhantes da sociedade portuguesa desse tempo, entre as quais o réu D. José de Mascarenhas, 8º Duque de Aveiro e Marquês de Gouveia, cunhado do velho Marquês de Távora. Condenou ainda o próprio velho Marquês de Távora, o seu filho primogénito, D. Luís Bernardo de Távora, o filho mais novo, ainda muito jovem, a sua mulher, D. Leonor de Távora, bem como as suas filhas, genros e os seus netos. Há muito que os interesses pessoais e ideológicos de Pombal colidiam com os das famílias mais importantes do Reino, e o atentado constituiu uma oportunidade que Pombal aproveitou para legitimar os seus objectivos. Existem ainda muitas dúvidas sobre os autores do atentado e os seus presumíveis objectivos. A confiar nos autos do Tribunal, o Duque de Aveiro confessara a autoria do atentado e arrolara consigo a família Távora, que, por coincidência ou não, constituía um obstáculo às intenções do ambicioso Marquês.
A confissão do Duque de Aveiro fora retirada a custo de horrendas torturas. Para compreender o desfecho deste drama, não podemos esquecer que o Duque revelava, frequentemente, alguma sobranceria relativamente a Sebastião Carvalho e Mello por este ser originário da baixa fidalguia, origem que não se poderia equiparar à estirpe elevada do Duque, que ostentava com arrogância e altivez a sua ascendência, que, ao que se julga, provinha do primeiro duque de Aveiro D. João de Lencastre, que por sua vez seria filho de D. Jorge, filho bastardo de El-Rei D. João II. Apesar das poucas gotas de sangue real que o Duque possuía nas veias, estas valeram-lhe uma acumulação de riquezas, quer em bens móveis e imóveis, que provocava a cobiça do ambicioso Marquês de Pombal e talvez até do próprio rei, D. José I.
Acusado de cabecilha, D. Francisco de Assis de Távora era filho primogénito do segundo conde de Alvor, Bernardo Filipe de Neri de Távora. D. Francisco casara com a sua prima D. Leonor de Távora, senhora muito culta e formosa, que fora o centro das atenções da corte de D. João V. Há muito que D. Leonor de Távora irritava Sebastião de Carvalho e Mello, sobretudo, por ser grande admiradora do Padre Malagrida, seu confessor e inimigo declarado do Conde de Oeiras. Mas, o pior de tudo, é que D. Leonor arrastava consigo outras damas da nobreza para as frequentes prédicas do alucinado padre, que, do seu púlpito, arrasava o Primeiro-Ministro do Reino. Entre as diversas questões que afastavam o jesuíta Malagrida do Conde de Oeiras encontravam-se não só o azedume que este tinha aos irmãos de Layola, mas também a luta pela abolição da escravatura dos Índios do Brasil. Malagrida vivera longos anos em Terras de Vera Cruz, e, tal como outros jesuítas, há muito que defendia a liberdade dos Índios, assunto que contribuía ainda mais para azedar as relações entre Pombal e a dita congregação. Carvalho e Mello procurou, a todo o custo, incriminar também os jesuítas, em geral, na tentativa do regicídio e o padre Malagrida, em particular. Contudo não existia qualquer prova, nem factual nem testemunhas delatórias suficientes, que os pudessem envolver no processo. No entanto, o astuto e calculista Conde de Oeiras guardou a sua vingança para alguns anos mais tarde. De facto, a partir de um inquérito-farsa, (convém lembrar que o irmão do Marquês de Pombal era Inquisidor-mor do Tribunal do Santo Ofício), o pobre louco e tísico padre foi, em 20 de Setembro de 1761, condenado às mais horrendas torturas e à morte pelo garrote e foi ainda determinado que o seu corpo fosse reduzido a pó e a cinzas e fosse lançado ao mar. Percorreu as ruas de Lisboa algemado, com um letreiro a acusá-lo de “herético”, desde o forte da Junqueira até ao Tribunal de Santo Ofício, que se situava no Rossio, onde foi garrotado. Acusado de herético, situação paradoxal, na medida em que Malagrida vivia em constantes jejuns e sacrifícios, experienciara, no Brasil, longos anos a severa vida missionária e dizia ouvir a voz do Padre António Vieira a falar-lhe dos Índios, era, agora, acusado pelo Tribunal da Santa Inquisição das maiores heresias. Este padre, segundo consta, fora quase venerado pelo Magnânimo rei D. João V, que lhe teria morrido nos braços. Curiosamente, a acusação que o levava ao cadafalso fora proferida e testemunhada pelo próprio Conde de Oeiras, tal era o ódio que o Primeiro-Ministro votava ao seu confesso inimigo. O conde, o maior político europeu do seu tempo, especialista em intrigas, conseguira estimular os velhos ódios entre congregações religiosas, colocando os jesuítas, oratorianos e dominicanos uns contra os outros. Convém referir que a Santa Inquisição era chefiada pelos violentos dominicanos, que cobiçavam o poder político e económico dos intelectuais jesuítas, quer em Portugal e no estrangeiro quer no próprio Vaticano. Assim, a condenação de D. Leonor de Távora constituía uma quase condenação indirecta da Companhia de Jesus e procurava afrontar a poderosa Congregação de forma que reagissem insensatamente em auxílio da sua mais distinta apoiante.

Parte II – “A face oculta do Marquês de Pombal”

Quanto a D. Francisco de Távora, o segundo condenado masculino, era esposo de D. Leonor, cunhado do Duque de Aveiro, e fora, em 1750, nomeado Vice-Rei da Índia, em substituição do seu pai Marquês de Alorna. Acompanhou-o nesta empresa militar a sua esposa D. Leonor e o seu filho primogénito D. Luís Bernardo de Távora, que, por graça especial de El-Rei, já usava o título de Marquês. A esposa de D. Luís de Távora, D. Maria Teresa de Távora, geralmente conhecida como a marquesa nova, era uma mulher um pouco fútil, mas tão formosa como D. Leonor, sua sogra. Ora, por fortuito acaso ou não, a jovem esposa não acompanhara o marido e os sogros nesta empresa militar e, neste período em que o marido esteve ausente, D. Maria Teresa frequentava regularmente a corte e, talvez, por esse facto, D. Maria Teresa de Távora tornou-se íntima de Sua Majestade El-Rei D. José. A verdade é que os Távoras partiram para a Índia ainda no reinado de D.João V e fora o próprio D. José, príncipe herdeiro, que os acompanhara ao cais de embarque para se despedir de tão ilustre família, a mais rica, a mais poderosa, a mais ilustre e a mais nobre de Portugal. No entanto, aquando do regresso da família Távora, conta-se que D. Francisco de Assis ficara muito melindrado porque El-Rei não teria ido esperá-lo ao cais, uma vez que prestara tantos e preciosos serviços ao Reino de Portugal e à Coroa, durante a sua campanha em terras do oriente. Ou por ter sido preterido pelo Rei, ou pelo agravo que o monarca fizera à família Távora pelo concubinato entre o Rei e a jovem Duquesa nova, ou pela sobranceria em relação ao Primeiro-Ministro Carvalho e Mello, ou ainda por todas estas razões, o facto é que as relações entre os Távoras e a Coroa acabaram por se deteriorar, dando azo a diversas especulações e aos mais inimagináveis boatos. Assim, estava criado o clima propício de implicação dos Távoras na conjura. De tal forma que, no dia 13 de Janeiro, os Távoras foram acusados de alta traição, não havendo, no entanto, nenhum facto comprovativo do seu envolvimento no atentado, a não ser a confissão do orgulhoso e insensato Duque de Aveiro, que, mediante a tortura do fogo, da água a ferver, envolveria a prestigiada família no atentado. Para além destes nobres, os dois sicários, António Alvares Ferreira e José Policarpo de Azevedo, que dispararam os bacamartes sobre a sege real, supostamente a mando do Duque, foram também sentenciados. Assim, ordenou a Suprema Junta de Inconfidência que D. José de Mascarenhas, Duque de Aveiro, acusado de ter sido o cabecilha do atentado real, sofresse o seguinte suplício: “ (…) com um baraço e pregão seja levado à Praça do Cais, em Belém e num alto cadafalso seja castigado e visto pelo povo e seja exposto em roda para satisfação dos presentes e futuros vassalos deste reino, que depois de ser ter quebrado os oitos ossos das pernas e dos braços seja queimado vivo e que o seu corpo seja reduzido a pó e a cinzas e sejam estas lançadas ao mar para que dele não haja qualquer memória futura”. Para apagar ainda mais a memória do Duque, a Suprema Junta ordenou que fossem picados todas os escudos, brasões e insígnias da casa ducal e todos os edifícios, e que casas e casebres pertencentes ao Duque e dos seus familiares fossem demolidos e arrasados e que os campos fossem salgados para que não fosse possível cultivar qualquer palmo de terra e ainda que todos os haveres incluindo jóias, ouros e pratas e mobiliário fossem confiscados e que fossem integrados nos bens da Coroa. Assim, para executar a referida pena, uns dias antes do famigerado 13 de Janeiro, algumas dezenas de carpinteiros começaram a construir o cadafalso em Belém e o povo, nesse dia, de triste memória, apressou-se para presenciar o macabro espectáculo, tal como era costume desde o tempo do não menos cruel e fanático D. João III. Assim, dezenas de faluas ancoraram em Belém, carregadas de espectadores vindos das zonas ribeirinhas do Tejo. Curiosamente, este mesmo povo, uns anos mais tarde, regozijar-se-ia, de alívio, com a exoneração do Marquês de Pombal e clamaria por justiça à piedosa soberana D. Maria I, desejando ver Sebastião de Carvalho e Mello sentenciado da mesma forma que os infortunados conjurados. D. Francisco de Távora e o seu filho primogénito, D. Luís Bernardo de Távora, foram condenados aos mesmos suplícios infligidos ao Duque de Aveiro. Estes dois últimos desgraçados, ao que parece, nunca estiveram implicados na conjura, pois, na verdade, D. Maria I, logo que subiu ao trono, acabou por reabilitar a memória da família Távora, o que nunca veio acontecer com a memória do Duque de Aveiro. Os autos de condenação da ré D. Leonor de Távora, mulher do réu D. Francisco de Távora, rezavam o seguinte: “que seja somente a cabeça separada do corpo e depois queimada e as suas cinzas lançadas ao mar”. Não deixa de ser quase irónico a palavra somente, como se os juízes procurassem revelar alguma piedade. Nesse dia 13 de Janeiro de 1759, D. Leonor subiu ao patíbulo ladeada por dois frades que a entregaram ao carrasco perito exercitado na Inquisição, depois da confissão que durou cerca de duas horas, para quase desespero de todos lúgubres espectadores, onde se incluía, para além de muito povo, toda a Corte, o próprio D. José e o seu orgulhoso Primeiro-Ministro. Enquanto D. Leonor subia ao cadafalso de forma digna sem perder a serenidade e a nobre altivez, um dos carrascos ia explicando detalhadamente os suplícios que iria sofrer bem como os suplícios dos seu familiares e as razões de tais suplícios. Quando o carrasco lhe vendou os olhos e afastou o lenço do pescoço, a Duquesa na sua voz autoritária, própria da sua linhagem, virou-se para o verdugo e pronunciou as últimas palavras: “Não me descomponhas!” e, apenas, de um golpe, o carrasco deixava, assim, cair o cutelo, ao mesmo tempo que gritava “Justiça que manda fazer El-Rei” e, imediatamente, pegando na cabeça ensanguentada, já separada do corpo, daquela que fora a mulher mais formosa e inteligente da corte de D. João V, elevava-a bem alto, para que todos os presentes a pudessem ver. Perante aquele macabro espectáculo, a nobreza, apesar de já habituada aos autos de fé, estava apavorada. No fundo, os condenados pertenciam à nobreza. Mas, por insistência da Rainha, foi possível poupar as mulheres e as crianças à matança. Foram, no entanto, imediatamente encarceradas em conventos, para nunca mais de lá sair a não ser muitos anos mais tarde, após a morte do rei. Terminadas as macabras execuções, que duraram todo dia, foi, por fim, incendiado o cadafalso que ardeu quase toda a noite, como se fosse um archote gigante. As nuvens negras, que se elevavam ao céu, constituíam um testemunho exemplar das horrorosas execuções.

III Parte – “A face oculta do Marquês de Pombal

O pequeno fidalgo Sebastião José de Carvalho e Mello livrou-se, assim, dos seus maiores e mais poderosos inimigos políticos, e, a partir dessa noite, poderia dormir descansado. Logo após o sacrifício humano do dia 13 de Janeiro, o Rei, como que num gesto de agradecimento, promove-o, oferecendo-lhe o título de Conde de Oeiras. Teria tido esta criatura algum arrependimento por tão horrendos crimes? Tanto quanto se sabe, existe apenas uma carta dirigida a D. Maria I, em que pediu desculpa à piedosa soberana, já durante seu desterro em Pombal, abandonado pelos seus principais bajuladores e pela maioria dos seus amigos, atacado por uma doença semelhante à lepra, que o transformava, pouco a pouco, numa chaga viva, e era frequentemente sujeito a interrogatórios de juízes do reino. Desculpa de quê? Este pedido de desculpa seria sintoma de algum arrependimento pelos crimes cometidos?
No fundo, o que o Marquês de Pombal, apesar de ter sido o mais hábil político do seu tempo, dotado de uma formidável inteligência, de uma poderosíssima capacidade estratégica, não poderia prever é que a execução do Duque, descendente do Rei D. João II, e dos Marqueses cuja linhagem remontava à fundação do condado Portucalense e do reino de Leão, abriria um procedente gravíssimo. Na verdade, não foi necessário esperar muito tempo para ver um horrendo espectáculo semelhante ao do dia 13 de Janeiro de 1759, só que o palco das tétricas execuções não seria a cidade de Lisboa, mas a cidade de Paris, e a mulher altiva que colocara a cabeça no cepo do carrasco não era D. Leonor, mas a própria rainha de França, D. Maria Antonieta, e o homem que a acompanhara ao cadafalso, também ele condenado à pena capital por alta traição à Pátria, era o seu marido, o Rei Luís XVI, parente do Rei D. José I. Entre as duas execuções apenas residia uma ligeira diferença, a saber, a turba que assistia ao espectáculo revelava-se mais eufórica e descontrolada. Revelava-se, assim, com muita fria nitidez, à luz do dia, o produto do Absolutismo, de que Pombal fora um dos maiores construtores.
Saciadas as paixões de El-Rei, D. Maria Teresa, a Duquesa nova, foi enclausurada no convento de Santos, de, por decisão real, foi-lhe atribuída uma abastada tença. É claro que a todos infelizes supliciados lhe foram confiscados todos os seus bens, até ao último alfinete. Curiosamente, no final do exercício do seu cargo, o pequeno fidalgo Sebastião de Carvalho e Mello tornar-se-ia um dos homens, senão o homem, mais rico de Portugal, enquanto, paradoxalmente, e ao contrário do que se afirma, D. Maria I, quando ascende ao trono, herda do seu pai, D. José I, uma situação financeira deplorável. No entanto, graças à determinação desta soberana e à inteligência arguta do seu Primeiro-Ministro, Luís Pinto de Sousa Coutinho, as finanças públicas recuperam e ressurge um novo fôlego intelectual em Portugal. Para esta regeneração espiritual, muito contribuiu o Duque de Lafões, um homem notável, tio da soberana, que pôde regressar do exílio logo após a exoneração do Primeiro-Ministro Sebastião de Carvalho e Mello.
Os crimes do Conde de Oeiras, crimes legitimados por razões de estado, como é óbvio, não se ficaram pelas macabras execuções do dia 13 de Janeiro de 1759. Quase todos os Távoras foram perseguidos, mesmo os parentes mais afastados dos infelizes sentenciados. Nobres como o Marquês de Alorna, o Conde de S. Lourenço, o Visconde de Vila Nova da Cerveira, tal como muitos outros fidalgos da primeira linhagem foram encarcerados nas masmorras sem julgamento, sem mesmo saber o motivo da sua reclusão. Muitas vezes, denúncias anónimas bastavam para ser preso e torturado. Muitos morreram pouco depois de ser presos, devido às condições desumanas das prisões. Algumas pessoas, mal informadas ou um pouco distraídas, pensarão que o famigerado Marques de Pombal perseguiu apenas nobres importantes do Reino, tal como os Távoras ou o Duque de Aveiro, pois, estão redondamente enganados. O povo foi quem mais sentiu na carne e na alma as barbaridades do “iluminado” Pombal. Não poderemos esquecer a repressão que se abateu sobre a população do Porto, durante os acontecimentos que ficaram denominados historicamente pela “revolta dos bêbados” e, ainda, a imolação pelo fogo de uma aldeia de pescadores com cerca de 300 pessoas, incluindo mulheres e crianças, em Porto Brandão, na margem esquerda do rio Tejo.
Pombal foi o construtor do centralismo económico do Estado, de que nunca conseguimos libertar-nos, apesar das boas tentativas do 1º liberalismo. Talvez, por esta razão, tenha, ainda hoje, muitos admiradores. Mas esta é uma outra questão, que teremos todo o prazer em, mais tarde, discutir.

Bibliografia:
Antunes, Manuel (Org.),(1982) No centenário do Marquês de Pombal, in Brotéria, Volume 114, Maio/Julho
Antunes, Manuel (Org.), (1982) No centenário do Marquês de Pombal, in Brotéria, Volume 115, Agosto/Setembro/Outubro
Domingues, Mário (1963) Marquês de Pombal - O homem e a sua época, Livraria Romano Torres, Lisboa

José António Pereira da Silva
Professor de Filosofia da ESQM



O Pai do Boston Tea Party


Samuel Adams é considerado um dos pais fundadores da nação americana. Foi primo de John Adams (segundo presidente dos EUA) e governador do Massachusetts. Foi o provável promotor do Boston Tea Party(um possível acrescento ao trabalho do nosso colega Henrique) e lutou ao lado dos americanos contra os ingleses. Nasceu e morreu em Boston em 1722 e 1803, respectivamente.

David, 11ºE

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

The Star-Spangled Banner




Em português «A Bandeira Estrelada» é o hino dos Estados Unidos da América. Originalmente uma canção de taberna britânica escrita por um organista chamado John Stafford Smith, a letra foi alterada pelo advogado Francis Scott Key como uma reacção aos bombardeamentos da Guerra de 1812.


Deixo uma tradução de domínio público (Wikisource) e duas interpretações (Academy Choirs e Marvin Gaye):

Ó, dizei, podeis ver, na primeira luz do amanhecer
Cujas amplas faixas e brilhantes estrelas, durante a luta perigosa,
Sobre os baluartes assistimos, ondulando tão imponentemente?
E o clarão vermelho dos foguetes, as bombas estourando no ar,
Deu-nos prova, durante a noite, de que nossa bandeira ainda estava lá.
Ó, dizei, a bandeira estrelada ainda tremula
Sobre a terra dos livres e o lar dos valentes?






Tomás, 11E

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Londres

Passar uns dias em Londres é uma experiência muito singular. Pessoas de todas as proveniências visitam e habitam na cidade, fazendo dela um espantoso puzzle multi-racial. Japoneses, chineses, coreanos juntam-se aos cidadãos de diversos países árabes, aos brasileiros, aos norte-americanos, aos hispânicos ... Raro é deparar com um inglês "lourinho e de olhos claros".
A maioria dos não-turistas é oriunda de países que foram, no passado, colónias ou protectorados ingleses. Alguém usou para este facto a expressão "factura do império". Esta ideia leva-nos a uma questão mais abrangente que é a problemática do estado-nação. Cada povo, uma nação - cada nação um estado; uma língua nacional; cultura e interesses comuns eram atributos do estado-nação no passado. Contudo, a partir dos anos 80 do séc. XX, a globalização, a circulação de pessoas e capitais, entre outras, deram origem a uma realidade muito distinta. Londres/Inglaterra é um óptimo exemplo deste novo paradigma.
Luísa Godinho