segunda-feira, 25 de abril de 2011

História e Literatura

Comemora-se hoje o 37º aniversário do movimento militar que instaurou a democracia em Portugal. Vivi-o intensamente, mais pela alegria dos meus 15 anos, do que por plena consciência política. Esta foi-se construindo num misto de valores de prática de cidadania, de solidariedade, de justiça, de crítica... Habituei-me a respeitar os políticos, independentemente de concordar ou não com a sua cor política, porque achava que perseguiam o sonho da (re)construção de um país melhor.
Hoje, 37 anos depois, estou muito desiludida com quem nos governa e com quem aspira a governar-nos. Uns, jogando primorosamente o jogo da vitimização , outros, ausentes em parte incerta (fazendo aparições sumárias no facebook), outros, mostrando-nos a intimidade da sua casa de subúrbio e da família (de um mau gosto inqualificável), todos, de repente, preocupados com os velhinhos, os doentes e, até... os professores. Enfim, não há paciência!
Por isso, depois deste desabafo, as minhas palavras vão noutro sentido: por ter tido tempo, paz e descanso para ler muito nestas férias (uso intencionalmente a palavra férias, em vez de interrupção das actividades lectivas, pela carga psicológica positiva que encerra, apesar de politicamente incorrecta no momento presente), consegui ler alguns números atrasados da revista Visão, que se amontoavam na minha mesa de cabeceira. Destaco, então, uma entrevista muito interessante à escritora algarvia Lídia Jorge, a propósito da publicação do seu último romance A Noite das Mulheres Cantoras. Já para o final da entrevista, encontro uma ideia com que me identifico completamente, mas que nunca conseguiria transmitir de forma tão atraente: "[...] Para se reconstruir a vida de hoje, também se pode ler jornais. Mas vai faltar-lhes sempre a dimensão do sonho, do desejo de como se queria que a vida fosse. Isto, só a ficção, a literatura, a poesia, o teatro, é que dão. "
Ao jornalista e ao historiador [acrescento eu], faltará "a dimensão do sonho". Essa está na literatura (e também na arte). Isto para justificar a importância que damos nas nossas aulas de História à produção literária e artística dos períodos em estudo, na procura de uma visão mais plural e real do homem e da sociedade.
Por isso, no dia 25 de Abril, termino com um Viva a Literatura! Faz-me mais feliz.

Luísa Godinho

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