quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ainda não é tarde!




Foi uma das melhores lições de História que ouvi até hoje. Mais do que isso, foi um bálsamo contra a doença que se chama depressão nacional em que vivemos. Quem disse que os jovens não se interessavam pela nossa História? Enganou-se! Os nossos alunos absorviam, com interesse quase fora de comum, as palavras e as imagens dessa aventura da Sagres, numa espectacular viagem de circum-navegação, comandada pelo nosso orador, Sr. Comandante Proença Mendes. Revisitámos os lugares percorridos pelos nossos antigos navegadores, refizemos a viagem de Fernão de Magalhães e navegámos com a Sagres por todos os oceanos do mundo. Por razões afectivas, que têm a ver com o meu passado familiar, retive com particular entusiasmo as aventuras da Sagres pela costa da Ásia.
O passado foi referido sem lamechice ou patriotismo serôdio. A História, tal como a entendo, não deve cingir-se apenas à compreensão do passado, mas deverá compreender o presente, permitindo criar planos para o futuro. É importante dizer sem acanhamento aos mais novos que, na verdade, fomos grandes, deixámos uma imagem respeitável nos quatro cantos do mundo, ao contrário de outros parceiros europeus, nomeadamente, os holandeses, os ingleses e os franceses. Em toda a costa da Ásia, em alguns casos, através de uma inteligente política militar e diplomática, impusemos a nossa vontade a povos locais, soubemos negociar e cativar outros, fizemos alianças com povos ricos e poderosos. Em suma, deixámos uma imagem de seriedade, de respeito e de estima, e, por toda a parte, fizemos amigos. Deixámos fortalezas, igrejas e vocábulos desde Ormuz a Sião e Malaca, até Macau e China e ao Japão. Ainda hoje há comunidades ao longo da costa da Ásia que falam português, que vibram com a Selecção Portuguesa e que se orgulham em ter um antepassado português.
Infelizmente, trocámos este capital cultural e humano por uns cheques europeus que se esfumaram no novo-riquismo e no alcatrão de estradas mal construídas. Agora que essa ilusão acabou, é tempo de mudar.
Depois de uma brevíssima conversa, no final da sessão, em que me lamentava sobre o facto de Portugal ter desbaratado esse precioso capital de boas relações entre estas nações da Ásia, o Sr. Comandante, respondeu-me que apesar de tudo “ainda não é tarde”.
Este ano de 2011, ano em que se comemora os 500 anos da chegada dos portugueses ao reino de Sião, constitui uma oportunidade para relançar pontes culturais, políticas, diplomáticas e comerciais com os povos da Ásia e, concomitantemente, reparar a ingratidão a que temos votado as comunidades que, por lá, ainda falam português e que, com muito custo, preservam, com orgulho, muitos vestígios de portugalidade.
Obrigado, Sr. Comandante Proença Mendes, e a toda a tripulação da Sagres!


José António

1 comentário:

  1. Temos em portugal múltiplas instituições dedicadas ao estudo da Ásia. Deixo aqui o contacto de outra, o CCCM - Centro Cultural e Científico de Macau : http://www.cccm.mctes.pt/ -- Com biblioteca e Museu, Rua da Junqueira, nº 30, relativamente perto da estação de comboios de Alcântara.

    Por outro lado, se alguém tiver interesse, pode sempre procurar pelo curso de Estudos Asiáticos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Venham aprender Mandarim e Japonês connosco. :D

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