Foi extremamente interessante, a questão que a Prof. Isabel Isidoro levantou no comentário que deixou ao post sobre Sidónio Pais.
Sobre Sidónio, humildemente digo que é uma figura que respeito e aprecio, pela sua grande humanidade (consubstanciada nas "sopas do Sidónio", por exemplo) e por ser o perfeito exemplar do que uma república produz.
Penso que o primeiro ponto, da sua humanidade, não necessita de ser estendido. Mas gostaria de reflectir sobre o segundo:
Sidónio Pais surge num contexto que nunca teve igual no nosso país: a república, que prometera mundos e fundos, criara simplesmente uma nova nobreza, colocando os burgueses nos lugares cimeiros de uma sociedade que se manteve profundamente injusta. Essa "nobreza" não era, no entanto, como a outra, e nunca tivera nas suas mãos a possibilidade efectiva de exercer o poder como agora se lhe afigurava. Inexperiente, a burguesia republicana (especialmente a nortenha) pecava ainda por ser intelectualizada, teórica e provincial. Mal arrebanhou o poder, à lei da bala, e sem o conhecimento do povo (duas denúncias evidentes dos tiques autoritários da república), legislou e contra-legislou, nada conseguiu fazer para diminuir a pobreza e evoluir o país, criou uma escola pública que servia a poucos, humilhou a Igreja (que à data tinha uma importância indiscutível para a maioria da população) e comprometeu Portugal participando na I Guerra Mundial.
Já no ano de 1915 Pimenta de Castro tinha tentado uma ditadura, para governar o ingovernável. Sidónio Pais limitou-se apenas a cumprir o desígnio que a população lhe impunha: era necessário por ordem nesta nova nobreza.
Ora de nobres percebem os reis, e só um homem que se assemelhasse a um rei iria ser capaz de dominar os ímpetos republicanos, trazendo alguma tranquilidade à classe que efectivamente possuía o poder. Se fosse efectivamente um rei, Sidónio Pais teria alcançado os seus objectivos: a sua autoridade era inquestionável, podendo assumir o papel do chefe-de-estado paternalista, e convivendo perfeitamente com a existência do Parlamento. Poderia, tranquilamente, ter dirigido o país com calma, encaminhando-o para um sistema tendencialmente democratizado.
E foi isto que Sidónio entendeu, no seu tempo. Adaptando-o à realidade republicana, defendeu acerrimamente o presidencialismo como forma de governo, a única que poderia personificar (convém lembrar que alguns grupos monárquicos - não-integralistas - propunham, paralelamente, o regresso à monarquia com objectivos democratizantes). Sem a tranquilidade que um posto régio lhe daria, Sidónio caiu na tentação da ditadura. Adoptou uma postura que mimava um rei, mas falhou, porque ele próprio não passava de um republicano burguês, de um novo nobre.
Esta é uma altura em que os professores estão muito atarefados, nomeadamente com horriveis tarefas burocrática ficando com pouco tempo para a reflexão e debate, deixo grande parte do que queria escrever para depois. As questões levantadas pelo Diogo são muitas, vou referir-me só a uma delas, deixando,talvez, a ditadura e a democracia para outra altura...
ResponderEliminarSobre República e Monarquia, quero acrescentar que, se a Monarquia for Constitucional e não autocrática se deve considerar que estarão consignados os princípios propostos pelos filósofos iluministas do século da razão e das Luzes - XVIII(as regras políticas que devem orientar o mundo civilizado). A República não gera necessáriamente problemas, tal como a Monarquia só por si não resolve problemas. O facto da Primeira República, não ter resolvido as grandes questões do desenvolvimento português ( problema que parece eternizar-se), poderia levar-me aqui a grandes "provocações baratas" dizendo que esses problemas foram criados por anos de Monarquia...Mas, não vou por aí, considero que estas questões não podem ser vistas com rivalidade do género preferimos o preto ou o branco, a realidade felizmente é mais complexa...ou não fosse a nossa realidade social e política gerada por estas cabeças que pensam e evoluem há milhares de anos... Penso que em pleno século XXI não faz sentido fazer este debate como se fazia no fim do séc. XIX e início do século XX, guerra acesa entre republicanos e monárquicos traduzidos no regicídio e nos frequentes episódios de bengalada em pleno Chiado...
Vivemos uma época de crises várias em que a económica nem será a pior ... o apelo aos regressos de personagens da história, a questão do desejo da vinda de um homem salvador, deve ser visto criticamente, mesmo que seja o nosso grande poeta Pessoa a dizê-lo. As intensões do Diogo não foram concertezas essas, mas, um salvador nestes termos é sempre um ditador, que nos retira a liberdade porque " é preciso governar bem" como os "democratas não conseguiram" e "eles sózinhos se propõem resolver"...ao fazermos esta apologia abdicamos da nossa participação, da nossa liberdade, entregamo-nos nas mãos de alguém que nos queira governar, a crise pode justificar tudo...e nos tempos de profunda crise económica que nos cerca, muitos são os que sem pensarem nas implicações fazem apelo aos salvadores da Pátria...Outras tarefas me chamam. Até à próxima. Isabel Isidoro