Tem este post o propósito de levantar algumas questões sobre o filme inglês com o título original “Good”, a que foi atribuído em Portugal o título “Homem Bom”.
Centrando-se na problemática da ascensão do nazismo, este filme, entre outras questões, coloca o dedo na ferida, ainda hoje cravada na alma da maioria dos alemães em primeiro lugar e dos europeus em geral: Como foi possível? Como “alinharam” os nossos pais e avós neste processo? Lembremos que Hitler chegou ao poder pela via democrática….
Parece-me que não basta explicar o horror do nazismo pela brutalidade das forças repressivas, pelo meticuloso método de controlo do pensamento dos alemães promovido pelo ministério da propaganda de Goebbels, pela pavorosa criação de um clima de medo, pela emotividade dos discursos de Hitler, pelo planeamento do holocausto, pelo tenebroso contributo do sinistro Himmler, pelo apelo ao que há de mais irracional no ser humano em tantos e tantos discursos, filmes, paradas militares …
Muito alemães ainda hoje sentem a necessidade de se justificarem permanentemente, ou através da descrição das circunstâncias em que “as coisas” ocorreram, também se afirma que as pessoas não sabiam o que se estava a passar…Existem ainda alemães que não conseguem falar deste assunto, tal é a dificuldade em verbalizar as perguntas e dúvidas que se lhes colocam perante o nascimento deste monstro no coração de um dos países europeus cultural e civilizacionalmente mais avançados. Para estes alemães e europeus aquelas explicações não são suficientes. É preciso pensarmos nos comportamentos individuais, nos actos do dia-a-dia de cada um de nós, e neste caso dos nossos antepassados recentes… Quanto a mim este filme lança questões para este debate.
Um bom exercício para tentarmos perceber melhor o que se passou e talvez para percebermos se somos Homens (e mulheres) “bons”é colocarmo-nos no lugar daquela personagem “Halder” e imaginarmos o que faríamos nós naquelas circunstâncias?
Teríamos colaborado com aquelas autoridades políticas sem hesitar, como o protagonista do filme? (é claro que a maioria dos alemães não tinha conhecimento do que se estava passar: perseguições, campos de concentração, no entanto, tinham muitas outras informações….) Mas …reparemos que Halder ( Professor universitário, homem reconhecidamente culto e informado) sabia que o seu amigo fora proibido de exercer medicina pelo simples facto de ser judeu! Volto à minha pergunta inicial: Teríamos, nós, dado ajuda aos nossos amigos?
Depois deste exercício se acharmos que não conseguiríamos fazer melhor do que ele, parece-me importante reforçar o nosso espírito de “alerta” o mesmo é dizer o nosso sentido crítico, tornarmo-nos mais “avisados”, informados e corajosos, ou seja mais humanos.
Parece-me que este “Homem do filme”, só aparentemente é bom. Porque é muito hesitante, porque se protege demais, lembremo-nos que a certa altura diz Para Maurice, que lhe pede ajuda…” Mas são eles que estão no poder!”…é como quem diz … Se eles estão no poder eu tenho que colaborar, para me defender, tenho que obedecer, não me posso prejudicar…Trata-se aqui de uma questão moral de enormíssima importância. É aqui que se estabelece a diferença entre um verdadeiro ser Humano e alguém que anda por aí, para defender a sua “vidinha”. Estarei a exagerar?
Claro que Halder (de passagem pelo campo de concentração) descobre a tragédia! Começa a sentir-se muito mal consigo próprio… esta personagem é obviamente muito diferente dos monstros que, com Hitler, organizaram o Holocausto, mas, quanto a mim, este professor universitário personifica os milhões de alemães, europeus, norte-americanos… que também tornaram possível o holocausto.
O que será então um Homem Bom? Fica a pergunta para quem quiser comentar.
Sabemos que algumas pessoas de grande coragem ajudaram de forma muito consequente os seus amigos, e em alguns casos milhares de desconhecidos. Aos meus alunos do 9ºA e 9ºB recomendo o visionamento do filme a “Lista de Schindler” (existe no centro de recursos) e uma pesquisa sobre o nosso Aristides de Sousa Mendes. Os resultados dessa pesquisa podem ser publicados aqui no “Toca a Historiar”.
Isabel Isidoro
Centrando-se na problemática da ascensão do nazismo, este filme, entre outras questões, coloca o dedo na ferida, ainda hoje cravada na alma da maioria dos alemães em primeiro lugar e dos europeus em geral: Como foi possível? Como “alinharam” os nossos pais e avós neste processo? Lembremos que Hitler chegou ao poder pela via democrática….
Parece-me que não basta explicar o horror do nazismo pela brutalidade das forças repressivas, pelo meticuloso método de controlo do pensamento dos alemães promovido pelo ministério da propaganda de Goebbels, pela pavorosa criação de um clima de medo, pela emotividade dos discursos de Hitler, pelo planeamento do holocausto, pelo tenebroso contributo do sinistro Himmler, pelo apelo ao que há de mais irracional no ser humano em tantos e tantos discursos, filmes, paradas militares …
Muito alemães ainda hoje sentem a necessidade de se justificarem permanentemente, ou através da descrição das circunstâncias em que “as coisas” ocorreram, também se afirma que as pessoas não sabiam o que se estava a passar…Existem ainda alemães que não conseguem falar deste assunto, tal é a dificuldade em verbalizar as perguntas e dúvidas que se lhes colocam perante o nascimento deste monstro no coração de um dos países europeus cultural e civilizacionalmente mais avançados. Para estes alemães e europeus aquelas explicações não são suficientes. É preciso pensarmos nos comportamentos individuais, nos actos do dia-a-dia de cada um de nós, e neste caso dos nossos antepassados recentes… Quanto a mim este filme lança questões para este debate.
Um bom exercício para tentarmos perceber melhor o que se passou e talvez para percebermos se somos Homens (e mulheres) “bons”é colocarmo-nos no lugar daquela personagem “Halder” e imaginarmos o que faríamos nós naquelas circunstâncias?
Teríamos colaborado com aquelas autoridades políticas sem hesitar, como o protagonista do filme? (é claro que a maioria dos alemães não tinha conhecimento do que se estava passar: perseguições, campos de concentração, no entanto, tinham muitas outras informações….) Mas …reparemos que Halder ( Professor universitário, homem reconhecidamente culto e informado) sabia que o seu amigo fora proibido de exercer medicina pelo simples facto de ser judeu! Volto à minha pergunta inicial: Teríamos, nós, dado ajuda aos nossos amigos?
Depois deste exercício se acharmos que não conseguiríamos fazer melhor do que ele, parece-me importante reforçar o nosso espírito de “alerta” o mesmo é dizer o nosso sentido crítico, tornarmo-nos mais “avisados”, informados e corajosos, ou seja mais humanos.
Parece-me que este “Homem do filme”, só aparentemente é bom. Porque é muito hesitante, porque se protege demais, lembremo-nos que a certa altura diz Para Maurice, que lhe pede ajuda…” Mas são eles que estão no poder!”…é como quem diz … Se eles estão no poder eu tenho que colaborar, para me defender, tenho que obedecer, não me posso prejudicar…Trata-se aqui de uma questão moral de enormíssima importância. É aqui que se estabelece a diferença entre um verdadeiro ser Humano e alguém que anda por aí, para defender a sua “vidinha”. Estarei a exagerar?
Claro que Halder (de passagem pelo campo de concentração) descobre a tragédia! Começa a sentir-se muito mal consigo próprio… esta personagem é obviamente muito diferente dos monstros que, com Hitler, organizaram o Holocausto, mas, quanto a mim, este professor universitário personifica os milhões de alemães, europeus, norte-americanos… que também tornaram possível o holocausto.
O que será então um Homem Bom? Fica a pergunta para quem quiser comentar.
Sabemos que algumas pessoas de grande coragem ajudaram de forma muito consequente os seus amigos, e em alguns casos milhares de desconhecidos. Aos meus alunos do 9ºA e 9ºB recomendo o visionamento do filme a “Lista de Schindler” (existe no centro de recursos) e uma pesquisa sobre o nosso Aristides de Sousa Mendes. Os resultados dessa pesquisa podem ser publicados aqui no “Toca a Historiar”.
Isabel Isidoro
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