sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Poema (em vez de crítica) para António Sérgio, de Manuel Alegre

O prof. José Manuel Conceição apresentou um poema de Manuel Alegre no final da palestra que realizou sobre António Sérgio, no passado dia 19 de Fevereiro. Por ser um poema muito bonito, que nos faz reflectir sobre a dúvida, o espírito crítico, o não conformismo, a busca..., parece-me importante divulgá-lo aqui. É uma visão do poeta sobre este intelectual português :
Poema (em vez de crítica) para António Sérgio
Alguns procuravam a salvação
embebedavam-se de metafísica e de palavras.
Tu não propunhas solução:
interrogavas.
Alguns perdiam-se muito
drogavam-se com miragens: coisas misteriosas e excessivas.
Tu despiste a casaca do Absoluto
e vieste arranhar (arranhar-te) nas pedras vivas.
Alguns coroavam Ubu
de rei Artur.
Tu soubeste dizer que o rei vai nu
E estavas contra em tempo de ser por.
Alguns vestiam-se de Quinta Essência
embalsamavam-se na farda do Crês Ou Não Crês.
Tu chegavas às portas da evidência
pelos caminhos do talvez.
Pedias uma crítica: só posso uma canção.
Que poeta eras tu: demolidor do mito e da certeza
abriste as avenidas da discussão
nesta apagada e vil tristeza.
E quando outros (em nome da Fé)
matavam com fé a nossa crença
tu disseste que todo o dogma é uma doença
e ensinaste-nos a crença do porquê.
Manuel Alegre
Luísa Godinho

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