(...)Considerarás o livro uma espécie de instrumento de libertação, um acervo de hipóteses e de pontos de vista que sirvam de excitante do teu intelecto, de ensejo ou de pretexto para tu reflectires, - e nada mais. (...) inspirar-te o desejo de soltares amarras, de fugir do porto, de te aventurares, - se pertences à espécie dos que vieram ao mundo para singrar no oceano da procura livre, entre as rajadas das opiniões, com o horizonte limpo a todos os rumos e aberto à audácia da investigação. Se és assim amigo; se és um espírito, - mete-te à vaga corajosa, e deita o meu tomo pela borda fora logo que te sintas entre mar e céu. Esquece-te de mim (...) ou combate-me até como bom ginasta, com as tuas armas(não com pessoalismo, ou com furores de simplório)...Treina contra mim teus braços ágeis, fere-me com lealdade e a sorrir (...) inspire-te a profundez das águas limpas, possas levar teu barco onde eu não fui.
(...) Mantém-te na facção em que bem quiseres: mas sê apurado, meu jovem inimigo; mas sê homem culto, mas sê europeu! Combatendo sê elevado e sê leal."
António Sérgio escreveu o texto, a que pertence este extracto,em Paris, no exílio, em 1928
Está publicado no Tomo II dos Ensaios, no prefácio à 1ª edição - existe no Centro de Recursos da ESQM. Leiam-no todo, está actualíssimo!
Estas palavras podem aplicar-se ao "tocahistoriar!" - Toca a produzir rajadas!
Publicado por Isabel Isidoro
É realmente um texto muito interessante. Deve ser lido repetidas vezes para compreendermos com mais profundidade o alcance das palavras de António Sérgio.
ResponderEliminarGosto particularmente da parte:
"mete-te à vaga corajosa, e deita o meu tomo pela borda fora logo que te sintas entre mar e céu."
Dedico essas palavras do autor aos nossos alunos. Desejo que atinjam esse momento de autonomia intelectual: que cada um consiga (suportado em todos os que contribuem para a sua formação) "dar o salto",pensar por si, fazer as suas opções, encontrar o seu caminho, combater os seus combates, seguindo o conselho de A.Sérgio: "Combatendo sê elevado e sê leal".
Penso que posso traduzir o que os professores sentem, citando outra vez A.S: Que "possas levar teu barco onde eu não fui".
Quando isto acontece, creio que a educação tem valor.
Luísa Godinho