No dia 20 de Janeiro, de 1554, entre as oito e as nove da manhã, no palácio da Ribeira, nascia D. Sebastião, “O desejado”. Faz hoje 456 anos. D. Sebastião era filho do único filho sobrevivente dos nove filhos de D. João III, o príncipe D. João, e da princesa espanhola, D. Joana, filha do Imperador Carlos V. O pai de D. Sebastião morreu vinte dias antes de este nascer, tinha apenas 17 anos. O infeliz e insensato monarca nunca conheceu a mãe. O nascimento produziu grande alegria entre o povo, que veio para a rua festejar efusivamente o acontecimento. Finalmente, parecia que estava afastado o pesadelo da ocupação estrangeira. Após a morte de D. João III, tomou a regência do reino o seu tio-avô, o Cardeal D. Henrique. Aos três anos, D. Sebastião numa cerimónia protocolar perante toda a corte, tomou nas suas frágeis mãos o ceptro de ouro que foi mandado fazer de propósito para essa mesma cerimónia. Tratava-se de um acto simbólico de investidura. Contudo, só aos catorze anos, foi investido de todo o poder, como monarca absoluto. Educado pelos jesuítas, D. Sebastião desenvolveu, desde cedo, uma personalidade fanática, guerreira, autoidolatrada, psicologicamente perturbada, revelando pouco interesse pelo sexo oposto, e causando, por este facto, grande preocupação a toda a Nação, e ensombrando, assim, mais uma vez a independência de Portugal. Apesar de todos os avisos da sua avó, D. Catarina, do seu tio, D. Filipe II de Espanha, e do seu tio-avô, o Cardeal D. Henrique, D. Sebastião propôs-se organizar uma grande cruzada contra os infiéis do Norte de África, desejando, ardentemente, ser ele próprio o comandante em chefe, na linha da frente. Esta empresa começou a transformar-se numa obsessão que lhe seria fatal. Afastou da corte todos os aqueles que se opunham ao seu sonho quimérico e rodeou-se de bajuladores e de jovens nobres imaturos e sem experiência das armas, mais ou menos boémios, como o seu primo D. António, ex-Prior do Crato ou o jovem Conde do Vimioso. Quanto mais crescia esta obsessão da cruzada, mais desinteresse o jovem monarca tinha pela administração do reino. Desta forma, o reino começou a enveredar para uma perigosa desorientação. O Jovem rei absoluto apenas se interessava pela caça, treinos guerreiros e jogos de canas e touradas. Espírito temerário, aproveitava nos dias de tempestades para navegar até à barra do Tejo, podendo assim demonstrar a todos como era corajoso e, ao mesmo tempo, preparar-se para esse embate com os mouros, que desde sempre idealizara, enquanto D. Catarina e o Cardeal D. Henrique rezavam para que regressasse, ao cais de Belém, são e salvo. Convencido da sua predestinação para um desígnio divino de conquistar e combater os infiéis, deslocou-se, por diversas vezes, a Lagos para aí passar algumas temporadas e sentir o “cheiro” de África. Esse estranho desígnio acabou por se efectivar no dia 25 de Junho de 1578. Nesse dia, a armada, que não ascenderia a 500 velas, depois de levantar ferro de Lisboa, foi lançar âncoras em Oeiras para receber soldados italianos e alemães e rumou a Cádis. Deste porto espanhol, rumou a Tânger, depois, partiu para Arzila e decidiu, então, D. Sebastião marchar, por terra, de Arzila para Alcácer-Quibir. No dia 4 de Agosto, os dois exércitos encontraram-se nas areias escaldantes de Marrocos, num lugar que ficou denominado “a batalha dos três reis”. Conta-se que perante um exército mouro bem preparado e desmesuradamente superior, alguns nobres portugueses disseram a El-rei que iriam morrer todos, ao que D. Sebastião, serenamente, respondera. “Morrer sim, mas devagar”. Terminava assim, sem glória, a dinastia de Avis.
Banos-Garcia, A.V. (2006), D. Sebastião rei de Portugal, Esfera dos livros Editora, Lisboa
Domingues, Mário (1963), D. Sebastião e a sua época, Romano Torres Editora
QUADROS, António (1983), Poesia e filosofia do Mito Sebastianista, Guimarães & Cia. Editores, Lisboa (perspectiva diferente da minha, no entanto, muito interessante.)
José António, professor de Filosofia ESQM
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