terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"Oremos pelo nosso Chefe Salazar"


As pesquisas são, frequentemente, monótonas. Não foi este o caso. Ao vasculhar o Google para um trabalho de Geografia C sobre o nacionalismo, eis que me deparo com um "santinho". Um santinho não é mais que aquilo a que no norte chamamos de pagela, isto é, pequena folha onde consta uma oração, normalmente para obter graças. Algumas explicações:

A 4 de Julho de 1937 seguia, na Av. Barbosa du Bocage, em Lisboa, um Buick que transportava António de Oliveira Salazar. Ditador que tinha, nesse mesmo ano, prometido ajuda a Franco na Guerra Civil que os nossos vizinhos espanhóis travavam. Ia, como disse, Salazar no seu carro, quando é vítima de um atentado à bomba, o único que sofreu durante a sua longa permanência no governo, cometido pelo anarco-sindicalista Emídio Santana.

A opinião nacional ficou, obviamente, chocada. Após o milagre económico que Salazar operou no nosso país, o povo devoto, que o próprio ditador educou como temente a Deus, sente-se pelo susto do chefe amado. A Igreja, apoio incontestável do regime nos seus primeiros anos, responde ao fervor religioso do povo e é por ordem de D. António Antunes, bispo de Coimbra, que se imprime este "santinho", concedendo indulgência (isto é, perdão dos pecados) a quem o rezasse com devoção.

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Observação pessoal: só publico este "santinho" a pedido da Prof. Luísa. Houve anteriores posts sobre figuras históricas portuguesas, feitos por mim, que não foram interpretados no espírito em que os escrevi. Não queria, de todo, que me tomassem por reaccionário. Admiro, como considero que todos deviam admirar, as figuras que fizeram a nossa nação. Nesse sentido, admiro e respeito a memória de Salazar, pelo bem que ele fez a Portugal. Da mesma forma, repudio muita da sua acção. Mesmo assim, paz à sua alma.

11 comentários:

  1. * eis
    adv.
    Usa-se para apresentar algo ou alguém, geralmente presente ou próximo dos interlocutores; aqui está, aqui estão.


    Ou é outra coisa que vejo na segunda linha de texto?...

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  2. já foi corrigido... acontece. Obrigada pela atenção.
    Luisa Godinho

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  3. Como disse a Professora, acontece ;) é culpa do corrector ortográfico, que me marcou eis como erro. Obrigado pela correcção.

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  4. Acerca da sua observação pessoal, Diogo, não deve interpretar os comentários aos seus posts como julgamentos pessoais. De modo algum. O interesse dos seus posts foi suscitarem o debate, a apresentação de pontos de vista diferentes. Beneficiámos todos. Este espaço é aberto às opiniões dos seus autores, tal como o são as aulas de História na nossa Escola. A reflexão que esses pontos de vista suscita são muito estimulantes.
    Por tudo isso... não nos prive dos seus posts!!!
    Luísa Godinho

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  5. Vamos lá ver se tenho engenho para clarificar o meu ponto de vista sobre algumas questões levantadas pelo Diogo nos comentários aos seus "posts". Tive como única preocupação, exprimir algumas das minhas opiniões e sobretudo lançar no "tocahistoriar" um estilo polémico, a recusa do estilo "morno" do politicamente correcto...que detesto, estou farta disso...é um fenómeno dos tempos...mas, nem por isso sou obrigada a praticar. Em minha opinião o estilo "morno" pode ser sinónimo de auto censura, o "não fazer ondas" quando se discutem ideias para agradar a todos e a nenhuns, não me parece uma atitude de grande honestidade intelectual. Ora, acontece que neste espaço se pode sempre responder e voltar a fornecer mais argumentos.
    Pertenço a uma geração que cultivou o gosto por tomar posição...e...mesmo que a minha opinião seja diametralmente oposta a outra, isso não me torna inimiga do meu interlocutor, antes pelo contrário! Podem surgir grandes amizades no calor do debate de ideias divergentes...e para isso não será necessário que alguma vez essas duas pessoas estejam de acordo...
    Não se estão a julgar pessoas...contudo, se eu tivesse que julgar o Diogo era pela sua boa expressão escrita, pelo seu empenho, pela coragem de vir a público tomar posição, seja a divulgar um livro ou homenagear figuras públicas. Agora, não me pode é exigir que eu concorde com uma homenagem ao Ditador Oliveira Salazar! Num espaço como este, as pessoas mesmo quando divulgam um filme estão a identificar-se com uma estética, com certos temas...estão a tomar posição. Existem temas, que pela sua própria natureza são propícios a gerar mais polémica do que outros, foi também o que aconteceu com "A face oculta de Marquês de Pombal". Estimo bem que tenha voltado a blog da História!
    Isabel Isidoro

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    1. Ainnhh que choradeira... país atrasado. Muito melhor vir tudo da escravatura moderna na Tailândia Indonésia e China. Se os sapatos custassem menos que uma pizza acredite que não haveria ninguém descalço por toda a Europa naquele tempo. É se tão fraquinho, fraquinho hoje que todos fogem dos remédios (só xarope com açúcar), das pessoas virtuosas (que bicho raro!), das escolhas difíceis (basta que a maioria concorde, não pense, mas siga os seus sonhos, quer dizer, paixões, isto é, obsessões, diria até, vícios!; se a gente quer... o problema é que normalmente todos estão mal... assim quem é o culpado?). Afinal ser atrasado é mau? Bem... (esta fixação evidentemente não se compreende com um regime de 500 a. C. que não resultou nem no original nem em nenhum local que se repetiu, lembra o comunismo) já chega de bater no ceguinho.

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  6. Para dar este assunto por terminado, e fazer dele uma página da História:

    Muitas vezes, quando exprimo as minhas opiniões, radicalizo o meu posicionamento. Como diz, e bem, a Professora, o "politicamente correcto" é "morno" e não se recomenda.

    Talvez por isso seja das pessoas menos indicadas para falar de História... sou incapaz de ficar neutro, e obviamente marco uma tendência no que digo. Assim aconteceu, quando tentei justificar à luz da época a ditadura de Sidónio - sendo totalmente democrata! - e resvalei para uma apologia da Monarquia.

    Da mesma forma poderíamos pegar num manual de História e analisá-lo, descobrindo as parcialidades que ele esconde. Como diz a Prof. Luísa, é impossível ser-se imparcial. E não é verdade? Acabamos sempre por arrastar aquilo em que acreditamos, pois isso faz parte do que somos.

    Não queria, de qualquer maneira, ter parecido "embirrento" ou "amuado" com a minha reacção ao que aqui se passou. Optei por não participar por considerar que, da mesma forma que nas aulas de História não digo tudo o que penso sobre esta ou aquela figura ou acontecimento, aqui não o podia fazer, por dois motivos: as professoras saberão muito mais que eu; e, apesar da excelente relação que mantêm com os alunos, nós continuamos a ser alunos, e a dever-lhes todo o respeito.

    Dito isto, vamos Historiar! Já tenho na minha cabeça alguns projectos de posts para o blog.

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  7. O Salazar foi um ditador nojento. O único 'milagre económico' que ele operou foi o de nos tornar um país tão miserável e atrasado (mais ainda) que para chegarmos ao nível da restante Europa teremos que rezar muito, mas por outros santinhos. Este bem que poderia ter sido logo despachado em 1937, mas teve que se esperar umas boas dezenas de anos para que ainda por cima fosse uma cadeira a fazê-lo cair, literalmente. Somos mesmo um país de brandos costumes... (e ainda bem, não é com sangue que se resolve estes problemas, claro).
    E isto para não falar da cumplicidade da Santíssima Igreja com um regime criminoso... a ver se beatificam também o Salazar que o Pio XII deve estar a sentir-se tão sozinho no infern... ahm, no céu.

    PS: Espero não ofender ninguém com este comment (ok, na verdade não me importo muito lol). Não é nada pessoal, até porque não conheço o autor nem a polémica.

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  8. Caro(a) John Doe,

    Como comprovarão as duas professoras de História que criaram este blog, a Drª Luísa Godinho e a Drª Isabel Isidoro, o milagre económico de Salazar existiu, verdadeiramente. À custa de impostos e, em parte, da qualidade de vida dos portugueses (o povo paga sempre a factura, seja com Salazar ou com o apertar do cinto de Manuel Ferreira Leite, então também Ministra das Finanças), Salazar operou esse milagre fazendo crescer as reservas de ouro do Banco de Portugal - instrumento essencial do equilíbrio económico que caracterizou o Estado Novo -, aumentando as exportações coloniais e diminuindo as importações. Proteccionista? Claramente. Mas resultou.

    A isto acresce a dieta fiscal a que o país foi submetido, sendo todos os ministérios alvo da fiscalização do Ministério das Finanças, o que tornou Salazar o super ministro que facilmente chegou à Presidência do Conselho. Aconselho-lhe a leitura do discurso que o ditador proferiu em 27 de Abril de 1928 em http://www.arqnet.pt/portal/discursos/abril01.html

    Sobre o Papa Pio XII, notando o seu interesse na sua figura e que segue este blog, espero em breve fazer um post dedicado a esse assunto. Digo-lhe, de antemão, que os factos contrariam o ódio visceral que exala desse seu comentário.

    Mais digo que este é o ultimo comentário que verá respondido por mim, enquanto não arranjar uma identidade. Como compreenderá, os autores do blog estão expostos: sabe o nome e a instituição a que pertencemos. Justo seria saber-se pelo menos o nome do nosso visitante desconhecido.

    Os meus melhores cumprimentos,

    Diogo Tapada Santos

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  9. Só uma pequena correcção, este blog foi criado pelas cinco professoras de História da nossa Escola, tarefa que nenhuma de nós sózinha teria sido capaz de fazer (estas coisas para nós são mais dificeis que para os alunos!). O blog tem também a coluna da esquerda, dos materiais didácticos. Mas... estes debates estão muito enriquecedores, está a ser compensador.
    Isabel I.

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  10. Peço desculpa, Professora, não sabia que as outras professoras estavam envolvidas no projecto. Fica então a correcção.

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